sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A violência contra homossexuais não merece panelaço?

País em crise. As bancadas da Bala, Evangélica e Ruralista dominam as pautas conservadoras votadas e aprovadas no Congresso Nacional Brasileiro. Mudam o rumo do país, voto a voto. Cenário de novela exibido para milhares de brasileiros e brasileiras que, sentados em frente a tela da TV, assumem o papel de jurados e explodem em panelas a indignação.

O circo pega fogo. Deputados, em nome de Deus, repudiam a ideologia de gênero, a orientação sexual. Votam por um estatuto que alimenta o conservadorismo pelo mosaico familiar. Enquanto isso, panelas continuam sonorizando as noites de mais um capítulo do Jornal Nacional, batendo, com força e violência, afinal, os brasileiros precisam mostrar que são contra a corrupção, não é?!

Enquanto os alienados tentam provar que são cidadãos honestos e indignados com a situação da política brasileira, o país é notícia nos veículos internacionais: Brasil, país que possui o congresso Nacional mais conservador desde a ditadura militar de 1964, lidera o ranking de violência contra homossexuais. Esse é o preço da intolerância.

Em 2013 o país registrou 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas (pesquisa divulgada pelo Grupo Gay da Bahia). É o campeão mundial em homicídios de homossexuais: de cada cinco gays ou transgêneros assassinados no mundo, quatro são brasileiros. Entre janeiro de 2008 e abril de 2013, foram 486 mortes de transexuais, segundo relatórios da ONG Internacional Transgender Europe.

Será que estamos vivendo em uma ditadura de opressão e não nos damos conta disso? Enquanto panelas são escancaradas nas sacadas dos prédios nas áreas centrais das metrópoles, jovens são repudiados por terem uma opção sexual diferente do padrão “sagrado”. Jovens do mesmo sexo são apontados por andarem de mãos dadas. Mulheres são ironizadas por serem lésbicas. Travestis apanham nas esquinas, sofrem abusos que não viram notícia nas páginas dos jornais locais. Assim, se calam. Os oprimidos permanecem oprimidos. E os deputados? Continuam defendendo a constituição de família, pai e mãe.

No período da ditadura militar (1964 a 1985) a caça à homossexuais e travestis varriam as ruas das cidades. A limpeza era em nome de deus? Em nome do homem? Em nome do Estado? E agora? Será que é em nome da bancada evangélica cristã?

Bertolt Brecht já nos disse, “que tempos são estes, que temos que defender o óbvio?” Que tempos são esses que o ser humano está cada vez mais desumano?

Será que estaríamos vivendo uma ditadura militar, em que a força do estado, representada pelo Congresso Nacional, trabalha pela limpeza das ruas, escolas, famílias brasileiras?

Não diga, não fale, não pense. Proibido falar em ideologia de gênero. Proibido falar em orientação sexual. Proibido falar em Luta LGBT.  Mas como combater a intolerância? Como diminuir os números de homicídios homofóbicos? Educação, educação, educação. Essa é a resposta. Mas... Não! O Plano Nacional de Educação foi aprovado pelos deputados, e lá diz que é proibido falar em ideologia de gênero!

A temporada da caça à homossexuais e travestis retornou. Os alienados continuam em silêncio, impedidos do prazer de nada fazer, apenas ser. Os conservadores continuam de pé, aplaudindo êxitos de PLs e PLs...

Não escuto o som das panelas...

       Caroline Dall'Agnol
               Jornalista

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